Entendendo os impactos das ADRs

Emitidas por empresas brasileiras e operadas nos EUA elas tem correlação com o mercado de ações no Brasil.

Mari Barros

12/22/20245 min read

A conexão entre o mercado internacional, representado pelas ADRs (American Depositary Receipts), e a bolsa brasileira (B3) é um fator crucial para traders que buscam entender os movimentos do mercado local. Neste artigo, vou explorar como o fluxo de ADRs influencia o comportamento da bolsa brasileira, e consequentemente dos contratos futuros, e apresentar um método prático para calcular essa correlação com base nas ADRs mais líquidas e de maior peso para nosso mercado.

O Papel das ADRs no Contexto Brasileiro

As ADRs são instrumentos que permitem a negociação de ações de empresas brasileiras no mercado norte-americano. Elas oferecem uma via para investidores internacionais acessarem empresas locais sem a necessidade de operar diretamente na B3. Essa dinâmica cria uma ponte entre os dois mercados, permitindo que eventos no mercado externo influenciem os preços das ações brasileiras e vice-versa.

Desde que ouvi sobre a correlação das ADRs com a nossa bolsa, nas aulas do Deivson Pimentel, e a explicação sobre sua influência no trade de abertura, comecei a investigar mais conteúdos e materiais que pudessem evidenciar os fatores da atuação das ADRs com o mercado brasileiro.

De acordo com um estudo publicado na Revista Brasileira de Economia de Empresas, corroborado por estudos acadêmicos e dados recentes, há uma correlação significativa entre o comportamento das ADRs na NYSE e os movimentos subsequentes na bolsa brasileira. O fluxo de negociação, especialmente nos horários de fechamento e abertura das bolsas, desempenha um papel crucial nesse sincronismo.

Em 2021, o volume médio diário de ADRs brasileiros negociados na NYSE cresceu 40% em comparação com 2020, enquanto o mercado à vista da B3 cresceu 20% no mesmo período. Essa disparidade reforça a relevância das ADRs como indicador do apetite internacional por ativos brasileiros, refletindo no comportamento da B3.

Rodrigues (2008) analisou a correlação entre ações negociadas na Bovespa e suas respectivas ADRs na NYSE. Os resultados mostraram uma correlação mais forte entre as ADRs e suas ações no mercado nacional do que entre as ADRs e ações de empresas norte-americanas, indicando que movimentos nos preços das ADRs podem refletir diretamente no mercado brasileiro.

Outra pesquisa ampliou a discursão analisando se a listagem das ADRs brasileiras na NYSE aumentou a negociabilidade das ações brasileiras. Para Joel Miyazaki este foi o principal benefício identificado no estudo, já que a liquidez aumentou devido à maior base de investidores. O que para o autor evidenciou que o crescimento da negociabilidade destaca o papel dos ADRs em ampliar o mercado das ações brasileiras.

Como funciona a correlação

A correlação entre as ADRs e a bolsa brasileira se dá pelo ajuste contínuo entre os mercados dos EUA e Brasil, que operam simultaneamente em boa parte do dia. Prova disso é a análise gráfica comparativa entre uma ADR e seu par de ação doméstica, onde é possível observar alinhamentos nos movimentos de preço. No entanto, após o fechamento do mercado brasileiro (18h) e EUA (16h local), o mercado americano continua funcionando, absorvendo novas informações e gerando um fluxo no aftermarket. Esse fluxo residual influencia a abertura do mercado brasileiro no dia seguinte, ajustando os preços às movimentações ocorridas na bolsa americana durante o período em que o mercado local estava fechado. As negociações, realizadas majoritariamente por instituições e fornecem informações valiosas sobre o fluxo de capital institucional, antecipando possíveis movimentos na abertura do mercado brasileiro.

De acordo com Pimentel, o peso das ADRs no mercado brasileiro:

  • 30% de influência no mercado futuro.

  • 70% de influência no mercado à vista.

Como Escolher as ADRs para Análise

Para um cálculo eficaz da correlação entre o fluxo de ADRs e a bolsa brasileira, é essencial selecionar as ADRs com maior representatividade em termos de volume financeiro e representatividade na composição da carteira do índice BOVESPA. Além de outros fatores como maior liquidez e de maior lastro. Baseando-se nesses dados podemos priorizar as 5 ADRs, como:

  1. Petrobras (PBR & PBR.A): Representa uma fatia significativa do setor de energia e lastro direto com a commodities petróleo.

  2. Vale (VALE): Reflete a demanda global por commodities.

  3. Itaú (ITUB): Um termômetro para o setor bancário, impacto direto com risco país (Juros)

  4. Bradesco (BBD & BBDO): Complementa a análise do setor financeiro.

  5. Santander (BSBR): Complementa a análise do setor financeiro.

Análise do Comportamento do Mercado

Para usar o comportamento das ADRs para uma melhor leitura das aberturas dos mercados, futuro, à vista e Dow Jones se deve calcular o saldo das ADRs para compor uma análise geral do mercado, observando:

  • Movimentos no pré-market americano.

  • Correlações com outros indicadores econômicos globais, como dados de inflação, juros e commodities, para validar o cenário esperado.

  • Regiões críticas de preço (suporte e resistência).

Para melhor compreensão de como comportamento das ADRs ajuda a prever movimentações do mercado brasileiro, veja os exemplos:

  • Exemplo 1:

    • ADRs fecham no after market (pós mercado) em -3%.

    • Isso indica pessimismo e continuidade do fluxo vendedor na abertura.

O pré-market americano também tem influência na abertura do mercado brasileiro. Movimentos no pré-market ajudam a confirmar ou questionar o cenário indicado pelo fechamento do after market (pós mercado) das ADRs no dia anterior. Se as ADRs estavam levemente negativas no fechamento, mas o pré-market indica boa recuperação, o mercado brasileiro à vista pode abrir em alta:

  • Exemplo 2:

    • ADRs fecham em no after market (pós mercado) -6%, mas abrem no dia seguinte, no pre market (Pré-mercado) com +6%.

    • Esse cenário sugere neutralidade, para a abertura do mercado à vista ou seja, um dia com baixa volatilidade.

A correlação entre o fechamento das ADRs e os movimentos do índice brasileiro ajuda a identificar regiões de suporte e resistência:

  • Exemplo 3:

    • ADRs fecham em -3% com o índice em 127000 pontos.

    • Se o índice abrir no dia seguinte em 127500 com ADRs positivas, a região de 127.000 pontos pode ser considerada um suporte comprador.

Conclusão

A conexão entre as ADRs e o mercado brasileiro é um ponto estratégico para compreender os movimentos de abertura da B3 e antecipar tendências do mercado futuro e à vista. A análise detalhada demonstrou que o comportamento das ADRs no mercado norte-americano, especialmente no after market, influencia diretamente os preços e as regiões críticas do mercado brasileiro, como suportes e resistências.

Ao utilizar ADRs de maior peso e liquidez, como as de Petrobras, Vale e Itaú, é possível obter uma leitura mais precisa do apetite internacional por ativos brasileiros. Além disso, a correlação identificada entre as movimentações no fechamento do after market e no pré-market americano fornece um panorama valioso para planejar operações na B3, oferecendo aos traders um método prático e assertivo de análise.

Compreender essa dinâmica entre mercados é mais do que uma vantagem técnica: é uma estratégia essencial para quem busca navegar no complexo oceano dos mercados globais com mais confiança e fundamentação. O uso eficaz desse conhecimento permite operar de forma alinhada com os fluxos internacionais, ampliando as chances de sucesso em um cenário tão competitivo.

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Impacto das Emissões de ADRs no Valor das Empresas Brasileiras; Miyazaki (2001) FGV Repositório

Correlação entre ADRs e o Mercado Brasileiro; Rodrigues (2008) Repositório UFSC

A eficiência informacional do mercado de ADRS Brasileiras; Bruni Repositório Unicas

Estratégia de arbitragem entre ações brasileiras e suas ADRs; Chiara e outros (2012) Revista brasileira de economia